30 de jun. de 2010

Crítica: A saga crepúsculo: Eclipse

Crepúsculo nasceu como um produto para atender o mercado jovem, fatia que tem dominado o consumo de cinema, e ainda contou com a ajuda de ser adaptação de um best seller, o que lhe proporcionaria, potencialmente, uma reserva de mercado de 17 milhões de pessoas no mundo. Quando arrecadou US$ 69 milhões em apenas três dias de exibição, o futuro da franquia estava selado.

Estabeleceu-se uma sólida relação de consumo para o espectador: eu, produtor, percebo o comportamento do jovem de hoje e lhe ofereço um produto no qual ele se espelhe. O consumidor vai às compras – quer dizer, ao cinema –, sai satisfeito e se torna mantenedor da marca Twilight. Constitui-se uma relação mercadológica extremamente segura para ambas as partes.

Isso é A Saga Crepúsculo: Eclipse, terceiro capítulo da série: uma junção do que funcionou no primeiro filme (apresentação de um universo, aventura, o amor) com o que há de melhor no segundo (efeitos visuais, incorporação de novos personagens). O resultado é um filme para os iniciados, repetindo os códigos de Bem, Mal, renúncia, crescimento, paixão, mito dos vampiros, romantismo. Afinal, em um momento tão careta, com produtoras temerosas em arriscar por causa dos custos dos filmes, opta-se por investir no certo em vez de apostar no duvidoso.

De Lua Nova para Eclipse, a principal mudança está na cadeira de diretor. Sai Chris Weitz e entra David Slade, de 30 Dias de Noite e Menina Má.com. A diferença está em detalhes minúsculos, como maior segurança no tratamento do suspense, do mistério e do medo, além de Slade perceber algo que a telenovela insiste em negar: a câmera não precisa mostrar sempre quem está falando.

Outra mudança que torna menos doloroso assistir ao terceiro filme da franquia é a ausência de pretensão. Ao contrário de Weitz, que se achava fazendo uma versão gótica de ...E O Vento Levou, Slade sabe que não está dirigindo a mais nova maravilha do cinema dramático. Simplesmente relaxa e pilota no automático

Nos momentos em que o romantismo do casal chega perto da fronteira do ridículo, ele joga uma pitada de humor. Exemplo disso é a fala de Robert Pattinson que exprime exatamente o pensamento de quem não acha natural um menino de 16 anos que, quando não está na forma de lobo, anda de bermuda jeans e tênis: “Esse cara nunca usa camiseta?”. Faz bem para Eclipse não se levar tão a sério.

Mas, para por aí, pois não se trata de um filme de diretor, muito menos de atores. Pattinson e Kristen Stewart continuam servindo de escada (e colhendo os frutos, lógico) para filmes-conceito. Qual foi a sacada que da Summit Entertainment ao comprar os quatro livros de Stephenie Meyer? Perceber que por trás de um vampiro blasé com lente de contato, uma garota indefesa e um lobisomenm que parece frequentar a academia diariamente, há uma uma condensação da narrativa do teatro e literatura clássicos.

Lua Nova fala do amor incondicional, da falta de sentido em viver sem o amado. É o Shakespeare de Romeu e Julieta depois de ser batido no liquidificador com outros elementos da cultura de massa. Já Eclipse é sobre as consequências das escolhas e do sofrimento pelo excesso de amor – ou seja, Sófocles para a geração Twitter.

Uma franquia que pasteuriza clássicas questões narrativas e filosóficas para fazer um produto que arrebata especialmente os jovens. Triste contradição dos tempos estranhos em que vivemos: o contato com os clássicos é cada vez mais intermediado, ou iniciado, por uma mercadoria requentada no microondas.

A Saga Crepúsculo: Eclipse é o filme que qualquer pai ou mãe conservador anseia que os filhos, especialmente se for menina, assistam: trata a sexualidade com um pudor espantoso, reserva ao homem o papel de herói (tomando decisões que a garota não pode contestar), admite a atração por diversas pessoas que Bella pode sentir, mas apenas dá legitimidade ao casamento (o desejo por Jacob fica na escuridão, enquanto o amor por Edward é ambientado na luz do dia).

Elementos que etabelecem um contato direto com o público: história linear que mistura gêneros, mise-en-scène simples, temas profundos abordados rapidamente e muita música para completar cenas. Como Cinema, previsível. Como mais um produto na indústria do entretenimento, extremamente eficaz.

Fonte: CineClick 
Autor: Heitor Augusto

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