23 de jun. de 2010

Crítica: Em busca de uma nova chance

Que bela estreia da diretora Shana Fest. Quem assiste Em Busca de uma Nova Chance pensa estar à frente de um filme tocado por uma diretora experiente e segura, daquelas que aprenderam a dar atenção a um ator. É um Drama com “d” maiúsculo, repleto de felizes escolhas narrativas de Feste, sofrimento e, acima de tudo, verdade.

Verdade da dor e da perda. Do amor, do egoísmo, da solidão. Da inveja, da negação, da união. Da morte que gera vida. Fest dirige e escreve como se estivesse esculpindo um vaso de argila com emoções até a boca. Um filme que condensa e libera sentimentos, ora intenso, ora sereno.

Em Busca de Uma Nova Chance é um capítulo na vida da família Brewer. Allen (Pierce Brosnan) é o pai, um professor de matemática, casado com Grace (Susan Sarandon). Bennett (Aaron Johnson) é o irmão mais velho, que namora com Rose (Carrey Mullingan). Ryan (Johnny Simmons) é o caçula.

É um drama de narrativa clássica, com começo, meio e fim, que irá focar na jornada individual dessa família e de Rose. Como se portassem de uma certa maneira antes de começar o filme e, depois de um rio de acontecimentos, saíssem diferentes. O bom e velho plot educativo.

Feste corta as gorduras de sua história. Os primeiros 20 minutos de filme nos sonega a possibilidade de respirar. A cada sequência, uma nova informação é acrescentada. Entramos na sala de cinema sem saber muito e somos laçados aos poucos. Surpresa atrás de surpresa.

Feste inverte a apresentação dos personagens. Em vez de mostrar o ambiente, preparar o terreno para depois começar as surpresas, seu roteiro privilegia o inesperado, estabelecendo, assim, o campo minado no qual vamos pisar. Afinal, para quê “encher linguiça”?

Mas não se faz um filme apenas com um bom roteiro. Feste conta também com a colaboração da montadora Cara Silverman (que havia editado o horrendo Paixão de Aluguel). O recurso do flashback, “carne de vaca” no cinema, é usado de maneira precisa, pontual e eficiente para recuperar o amor que florescia entre Rose e Bennett.

Em última instância, Shana Feste deve à entrega de seus atores o tom de seu filme. Um drama que arranca lágrimas mais pela história em si do que pela manipulação. Carey Mullingan, destaque em Educação, mostra que tem um futuro promissor. A britânica guarda um mistério no olhar e uma dor que não precisa ser dita com palavras.

Aaron Johnson, o herói de Kick-Ass – Quebrando Tudo, não tem grandes dificuldades para um papel que não exige muito. Johnny Simmons, por outro lado, traz a verdade do irmão mais novo que sempre ocupa o posto de coadjuvante.

O inusitado está com os veteranos do elenco. Susan Sarandon, a mãe, mostra segurança ao enfrentar os momentos dramáticos do filme, ao passo que Pierce Brosnan sofre para chorar sem ter de levar as mãos ao rosto. É curioso que atrizes de meia idade com papeis de mães sofredoras geralmente são melhores do que atores de meia idade na pele de pais arrasados. Só não sei o porquê.

Seja qual for a razão, o que importa é que Em Busca de Uma Nova Chance é um bom exemplo de como um filme extremamente triste sobre a transformação dos personagens pode emocionar sem abusar da manipulação. Que venha o próximo filme de Shana Feste, Love Don’t Let Me Down.

Fonte: CineClick
Autor: Heitor Augusto

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