14 de jun. de 2010

Crítica: Lunar

A ficção científica nas telonas tem duas vertentes bem definidas: a explosiva e intensa, que experimentamos com certa frequência em filmes como Transformers, Distrito 9 e Star Trek; e a filosófica, que tem em 2001 - Uma Odisséia no Espaço e Solaris dois memoráveis exemplos. Lunar (Moon, 2009), filme de estreia do diretor e roteirista Duncan Jones, chega para engrossar o segundo time.

Jones, filho de David Bowie, dirige a produção independente britânica com poucos recursos - algo sempre difícil em se tratando do gênero. Seus sets, a la Kubrick, são minimalistas, e as poucas cenas de exterior, na superfície da lua, são muito pouco convincentes. Mas não dava mesmo pra esperar arroubos visuais: os 30 milhões de orçamento de Distrito 9, por exemplo, são uma verdadeira fortuna perto dos 5 milhões de Lunar. É no talento que o filme se sustenta.


Sam Rockwell (No Sufoco, Confissões de uma mente perigosa) tem aqui um dos melhores papéis de sua carreira - e sabe aproveitá-lo com a entrega habitual. Ele passa quase todo o filme atuando sozinho. Suas únicas interações são com seu robô-auxiliar, completo com emoticons para expressar suas "emoções" simuladas, o sistema operacional Gerty. Kevin Spacey dubla a máquina atualizando a frieza distante de Hal 9000 com um tom preocupado e camarada.

Rockwell vive Sam Bell, empregado no fim do seu contrato com as empresas Lunar. Ele tem sido um empregado fiel da companhia há três anos, vivendo na base batizada de Selene, onde reside enquanto supervisiona a mineração de Helium 3. O precioso gás lunar é a chave para reverter toda a crise de energia da Terra. Sam sonha com o dia em que retornará à Terra, para ficar com sua esposa (Dominique McElligott) e filha (Kaya Scodelario), assim que terminar seu turno, mas a Lunar não vê o futuro dessa forma.

Lunar é ficção científica de primeira, embasada em pesquisas científicas (o Helium 3 e suas teorias de exploração existem em publicações) e que emprega esse cenário distante para abordar temas como individualidade, identidade, resistência e isolamento.

Jones cria sensações excelentes de solidão e rotina. Inicialmente, o filme lembra o melhor episódio da série de TV Lost, "Man Of Science, Man Of Faith", aquele que introduz o personagem Desmond. Afinal, Sam é um sujeito fechado em uma estrutura, com uma missão a cumprir. Mas é quando a paranoia começa a se estabelecer que a trama realmente engrena. O texto é excelente e todas as questões propostas são respondidas satisfatoriamente ao final.

Pena que, apesar de todas as críticas elogiosas e das passagens por festivais, Lunar tenha sido sumariamente ignorado pela Sony Classic ao redor do mundo. Restrito a lançamentos pequenos na Inglaterra, Estados Unidos e alguns poucos mercados, o filme acabou direto em home theatre nos outros países, inclusive o Brasil. Lunar é vítima de seus próprios trunfos - criar algo memorável com pouco dinheiro -, afinal, se a Sony não gastou com ele não vê necessidade de investir em marketing e buscar retorno. A lógica não fecha, mas pelo menos o filme, bem ou mal, chegou por aqui.


Fonte: Omelete
Autor: Érico Borgo

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