6 de jul. de 2010

Crítica: [REC]2 - Possuídos

Vou começar este texto puxando pela memória a origem dos zumbis no cinema. Parece exagerado da minha parte querer fazer comparações com os mortos-vivos contemporâneos, mas preciso constestar a falta de genialidade que atinge o cinema hoje em dia quando o assunto é terror.

A proposta do gênero é assustar, por isso, começando com essa linha de raciocínio, volto no tempo e encontro em 1932 o primeiro filme sobre zumbis feito. White Zombie, dirigido por Victor Halperin e estrelado por Bela Lugosi, justifica essa minha resistência em enxergar arte nessas novas produções.

Também não posso ser tão exigente ao ponto de chamar tudo de porcaria, falando o português claro, pois existem, sim, filmes sobre mortos-vivos interessantes como, por exemplo, Madrugada dos Mortos, de 2004. A minha dúvida é: até que ponto vão existir produções sem pé nem cabeça, que não se importam com a gigante teia de sensações que alguém pode ter? Não só o susto, mas a tensão, a apreensão, o conformismo com a morte certa, o apego por um personagem... Onde está tudo isso hoje em dia?


Parece que o modus operandi da criação de um filme de horror foi alterado por algo superficial. Aquela coisa de ver um zumbi se arrastar, e não correr, que dava uma sensação de agonia, tanto por ver a pessoa naquele estado de putrefação quanto por ela estar vindo na sua direção, não existe mais. Agora, o morto corre atrás da vítima. Corre mais até mais do que a própria vítima. Em alguns casos, ao invés de assustar, fica engraçado ver um cara caindo aos pedaços correndo, parecendo o Robson Caetano. Não dá, né?

Um exemplo recente sobre o que estou falando pode ser visto em [REC 2] - Possuídos. Não pela falta de criatividade, porque não quero mais bater nessa tecla, mas pela trama mal amarrada, que é um dos fatores pelo qual me desencanta gastar dinheiro com o cinema ultimamente.

Para quem não assistiu ao primeiro longa, o filme é um chute no estômago, porque nada remete a acontecimentos anteriores; sem flashbacks, sem nada. Você é jogado na história assim como os personagens principais: sem saber de nada. Mas,para quem assistiu à primeira parte do terror espanhol, feito em 2007, não há nada de tão surpreendente assim, mesmo porque você sai do primeiro filme sentindo que entendeu o objetivo da história, mas que, no final das contas, não é nada daquilo. O roteiro se transformou de tal maneira que não dá para saber se foi intencional ou não.

A história de [REC] 2 - Possuídos é a seguinte: passaram-se 15 minutos depois que as autoridades de uma cidade perderam contato com as pessoas enclausuradas em um edifício. Ninguém sabe o que acontece lá dentro. O caos toma conta do lado de fora, enquanto uma equipe da SWAT, com câmeras de vídeo, é enviada para o interior do prédio para monitorar a situação e determinar o que está acontecendo. Uma tarefa aparentemente rápida e fácil, mas que na prática é mais caótica do que deveria ser.

Parece que é só nisso que consiste todo o enredo. Mas o pior é que todo o mistério, sobre o que estaria matando pessoas dentro do prédio, é desvendado: rápido, sem impacto e previsível. Antes as pessoas eram infectadas e se tornavam zumbis, mas tudo toma outra proporção e o que era morto-vivo se torna um possuído, assim como sugere o título do longa. Ou seja, criou-se um terror em cima de um terror. Sem necessidade. Daí uma sucessão de acontecimentos que embaralham o juízo de qualquer um.

Ora aparecem zumbis, ora pessoas submetidas a possessões demoníacas, ou seja, os roteiristas cercaram o espectador de todas as maneiras para que o filme fosse efetivo no quesito medo. Além disso, têm os sustos que não podem faltar em um filme como esse, pois só por causa deles a produção se sustentou. Infelizmente, muito se perdeu pelo caminho, como, por exemplo, o carisma pelos personagens e a falta de nexo entre um acontecimento e outro. Fiquei com a impressão de estar dentro de uma história de zumbis, com pessoas endemoniadas, onde há uma segunda dimensão e parasitas alienígenas. Ou seja, uma “massaroca” de coisas que até parecem imperceptíveis, mas que num determinado momento começam a causar um desconforto.

Porém, mesmo depois de tanta paulada, nem tudo está perdido. Arrisco dizer que as filmagens de [REC]2 – Possuídos, em primeira pessoa, criam uma conexão maior entre o espectador e o filme. A sensação de “eu estou lá” causa impacto. Talvez seja essa a grande sacada para ocultar o fraco roteiro. Confesso que senti falta do formato 3D, pois mortos-vivos se atiram para cima de você. Isso sim seria diversão. Mas o motivo pelo qual filmes de horror, na maioria das vezes, não são feitos em terceira dimensão é o baixo custo da produção, que não consegue sustentar a tecnologia.

Enfim... Mantenho minha linha de raciocínio após ver todos ao meu redor, durante a projeção do filme, rirem nas cenas mais grotescas. Por isso, deixo em aberto a questão: será mesmo que não há nada de errado com filmes que têm o objetivo de ser referência do gênero de horror caminharem para a comédia?

Fonte: CineClick 
Autor: Vanessa Ribeiro

Artigos Relacionados

1 comentários:

Anônimo disse...

não concordo

23/07/2010, 08:41

Postar um comentário