14 de jul. de 2010

Crítica: Os mercenários

Os brucutus voltaram. Ou será que eles nunca se foram? Senta que lá vem história: nos anos 80, durante a era belicista e republicana de Ronald Reagan, a marca mais popular e representativa do cinema comercial norte-americano, não por acaso, era a truculência. Foi o auge de Chuck Norris, Van Damme, Stallone, Steven Seagal, Schwarzenegger, Dolph Lundgren e outros menos bombados. Eram filmes de direita que serviam a uma administração de direita. Tudo muito coerente num país que sempre soube muito bem como utilizar a força de seu cinema para finalidades políticas.

Muito napalm passou por debaixo da ponte, os tempos mudaram, e hoje os EUA são capitaneados pelo democrata Obama, mais liberal que a grande maioria de seus antecessores. Não se justificaria mais, portanto, aquele tipo de cinema truculento.

Assim, causou estranheza a divulgação do projeto Os Mercenários, dirigido e interpretado por Sylvester Stallone, com as participações de ninguém menos que Dolph Lundgren, o eterno duro de matar Bruce Willis, e até uma aparição especial de Schwarzenegger. Isso sem mencionar que Steven Seagal, Van Damme e Wesley Snipes, convidados para o elenco, não puderam participar, por diferentes razões. E mais: a trama, também co-escrita por Stallone, enfocaria um grupo de violentos mercenários pagos para libertar um pequeno país latino de um terrível ditador. Os anos 80 estariam de volta? Seria o retorno do filme brucutu? Esta era a primeira impressão. Impressão que, felizmente, não se confirma: Os Mercenários é, antes de mais nada, uma baita diversão sem nenhuma pretensão oitentista de ostentar mensagens de direita.

O grande mérito do filme é que ele não se leva a sério. Diálogos bem humorados e personagens divertidos passam o tempo todo se auto-parodiando, fazendo humor a partir dos próprios clichês que eles mesmos ajudaram a criar décadas atrás. Em determinados momentos, chega a lembrar o engraçadíssimo Trovão Tropical.

Barney (Stallone) comanda o grupo The Expendables, cuja tradução mais apropriada seria “Os Dispensáveis”, ou mesmo “Os Descartáveis”, mas que a distribuidora brasileira preferiu traduzir como Os Mercenários. São brutamontes sem pátria, altamente especializados em resolver grandes intrigas internacionais na base da pancadaria, cobrando pouco e perguntando menos ainda. Certo dia o misterioso Church (Bruce Willis) contrata o grupo para derrubar do poder de uma republiqueta latina o temível General Garza (David Zayas), ditador tão totalitário que até a bandeira do seu país tem a estampa do seu rosto.

Barney e alguns de seus homens vão até o lugar, fazem um bom estrago, mas percebem que a missão seria difícil demais. Decidem não aceitá-la. Porém, em sua curtíssima estada no país de Garza, Barney se apaixona pela bela revolucionária Sandra, interpretada pela nossa conhecida Giselle Itié, atriz brasileira nascida no México, em papel de grande destaque (embora seu nome só apareça em nono lugar, nos créditos iniciais).

Assim, os “Descartáveis” acabam aceitando a missão, não por dinheiro, muito menos por algum tipo de convicção política, mas sim pelo amor de Barney por Sandra, e pela lealdade de seus companheiros, que não deixam o líder sozinho, na mão. Trata-se de outro diferencial que Os Mercenários apresenta em relação aos filmes dos anos 80: naquela época, a motivação por amor e por lealdade seria mal vista pelos olhares republicanos que norteavam aquelas produções onde explodir e destruir era imprescindível.

Não que não haja explosões e destruições em Os Mercenários. Muito pelo contrário. Mas aqui o arrancar de cabeças é desproporcionalmente violento e estilizado, propositalmente com um pé na paródia.

Além de Giselle Itié, outro ponto de contato do filme com o Brasil são as locações realizadas no Rio de Janeiro, que em várias cenas serviu como o cenário ideal para representar o fictício país dominado por Garza.

É bom ver atores veteranos como Stallone, Eric Roberts e Mickey Rourke curtindo representar estereótipos daquilo que eles próprios foram no passado. Rir de si próprio é uma das mensagens mais divertidas deste alto astral Os Mercenários.

Fonte: CineClick
Autoria: Celso Sabadin

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