25 de ago. de 2010

Crítica: Cabeça a Prêmio

Da primeira vez que assisti a Cabeça a Prêmio, no Festival do Rio em outubro, fiquei com a sensação de que era uma história quente abordada de maneira fria. Dei a mim uma segunda chance para dialogar com o filme mais com o coração e menos com a cabeça. Novamente, o filme não colou.

Em Paulínia, assisti pela terceira vez. O que era frio no filme, ficou mais quente. A potência de cada cena, individualmente, saltou mais aos olhos, assim como a escolha precisa de cada ator do elenco e as opções narrativas da direção de Marco Ricca. Mas, no geral, sinto que Cabeça a Prêmio parou no meio do caminho: está repleto de momentos poderosos, mas que não resultam em um filme poderoso.

Marco Ricca não tem dúvidas quanto ao que busca falar: o desmoronamento de uma estrutura familiar e do nojo daquelas relações humanas, intermediadas sempre por interesses escusos, trocas de favores e traições. Quem acredita na sinceridade do amor é um corpo estranho ao universo do filme.

Olha que tema bacana! No roteiro de Felipe Braga e Marco Ricca (com a colaboração de Marçal Aquino), ele é desenvolvido na família Menezes. O patriarca é Mirão (Fulvio Stefanini), casado com Jussara (Ana Braga). Elaine (Alice Braga) é a filha única que não consegue sair das garras do pai. Denis (Daniel Hendler) é o charmoso piloto que traz as encomendas ilegais para a família. Abílio (Otávio Muller) é o irmão que vive à sombra de Mirão, enquanto Brito (Eduardo Moscovis) e Albano (Cássio Gabus Mendes) são os capangas.

Todos estão sob administração de Mirão. “Administração” não é um exagero: esposa, filha, empregados, irmão, gados e muambas estão na mesma categoria de peças que precisam ser comandadas para que a máquina Família Menezes funcione. As relações entre quem é ou orbita a família passa, sem exceções, pelo poder – até mesmo quem ama: a filha que ironiza o piloto por transar com a filha do patrão, o irmão que assedia Denis por chantagem, os capangas que não dão um passo sem a ordem de Mirão, a dona do bar e Brito que brigam para ter as rédeas do afeto.

A corrosão das relações é responsável por criar momentos de impacto. Porém, falta tensão ao conjunto do filme: Ricca puxa o freio de mão para soltá-lo apenas nos momentos finais, quando o destino da família Menezes, que já estava traçado antes mesmo do filme começar, é sacramentado.

Na linha de emoção, Cabeça a Prêmio alcança picos quando as diferenças dos personagens são confrontadas, mas o tesão se esvai quando a tensão vai embora. Estamos frente a um filme que nos agarra pelo pescoço para logo depois nos largar, à deriva, numa imensidão vazia.

Marco Ricca deu especial atenção aos atores. No elenco principal, complementado por Via Negromonte, César Trancoso e David Cardoso, não há ninguém fora do tom. Todos andam pela mesma melodia que guia também a fotografia, locações e trilha sonora: o desengano de uma família.

Como diretor, Ricca arriscou bastante – por exemplo, não recorreu a planos-detalhe e deu preferência a panorâmicas. Acertou em algumas escolhas, errou em outras. Mas Cabeça a Prêmio dá vontade de ver seu próximo filme como diretor, pena que produzir no Brasil é algo tão complicado.

Fonte: Cineclick.
Autoria:Heitor Augusto

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