13 de mai. de 2010

Como enfrentar a crise no setor de locação de filmes?

As locadores de vídeos e DVDs tradicionais vêm enfrentando problemas há tempos e tendem a desaparecer. Mas há algumas saídas

Por Marcelo Cherto*
Desde 1986 trabalho no ramo de locação de filmes - atualmente DVD - e já passamos por diversas crises, só que esta veio para acabar com tudo. Estamos enfrentando uma queda de movimento de mais de 70% com relação ao ano de 2006 e não sei mais o que fazer. A locadora está localizada numa cidade com mais de 40 mil habitantes. Faço locações via web, tenho delivery, uma carteira enorme de clientes e já fiz diversas tentativas de trazê-los de volta para a loja, mas nenhuma ação até hoje trouxe resultado. Estamos cobrando R$ 5 pela locação de DVD, entregamos e buscamos em domicílio, e não temos como reajustar o preço, que é o mesmo praticado desde 2004. Já fizemos inúmeras promoções, até com pacotes de cinco filmes por R$ 10, e mesmo assim, passados os primeiros meses, o movimento diminuiu e fomos obrigados a cancelar a promoção. Talvez esteja com miopia administrativa, mas espero contar com a sua ajuda, para clarear algumas opções. 
Luís Roberto Fabro Flora 
Dracena, SP


Minha resposta vai ser mais longa do que eu gostaria e receio não ser o portador das melhores notícias para o leitor. As locadoras de vídeos e DVDs tradicionais vêm enfrentando problemas há tempos e, na minha visão, tendem a desaparecer. Não de imediato, é claro. Algumas podem durar até 10 anos, ainda. Principalmente as “de nicho”, ou extremamente bem localizadas, ou que ofereçam um serviço excepcional. Porém, mais cedo ou mais tarde, vão desaparecer.

Com tantos canais de TV a cabo passando bons filmes (ao menos na maioria dos dias), o YouTube, a sofisticação cada vez maior das salas de cinema (agora com assentos marcados e possibilidade do espectador comprar seu ingresso pela internet e imprimi-lo em casa) e tantas outras distrações, a locação de DVD tradicional tinha mesmo que perder espaço.

A sorte dos donos da maioria das locadoras é que a chamada “banda larga” no Brasil ainda é demasiado “estreita”. No dia que tivermos banda larga de verdade e pudermos receber o filme que quisermos, na hora que quisermos, pela internet, não haverá mais nenhum motivo para alguém querer ir a uma loja para alugar um vídeo.

Nos EUA, uma experiência vitoriosa tem sido a da Netflix, uma locadora virtual de DVDs, que, mais que clientes, tem assinantes. O interessado acessa o site da empresa, opta por um dos planos (tendo direito a uns tantos dias de locações gratuitas, para testar o serviço) e faz uma assinatura, passando a pagar um determinado valor mensal (que varia conforme o plano) e tendo direito a receber em casa, pelo correio, uns tantos DVDs por semana (a quantidade depende do plano selecionado).

Você escolhe pela internet, no momento da assinatura, a lista dos filmes que quer assistir, a partir de um catálogo de quase 80.000 títulos. E pode alterar essa lista depois, para adicionar novos filmes a ela. Conforme o plano, a Netflix envia pelo correio um ou mais filmes de cada vez e o cliente pode ficar com cada um deles quantos dias quiser. Para devolver, coloca no envelope já selado que vem junto com o DVD e joga numa caixa de correio. Quando a empresa recebe de volta o lote que enviou a você, despacha o seguinte para sua casa.

Da última vez que consultei o site, o plano de um filme por semana custava algo como US$ 5 mensais. Receber 4 filmes por semana custava menos de US$ 20 por mês. Tem até gente cancelando a assinatura de TV a cabo e trocando pela Netflix. Imagine o estrago que os caras não estão fazendo nas locadoras tradicionais. Tanto que a Blockbuster e o Walmart vêm tentando fazer algo parecido, mas, até onde me informaram, sem a mesma competência da Netflix.

Além disso, alguns milhares de títulos já estão disponíveis online e, conforme seu plano, você pode também assisti-los por streaming. Onde há banda larga de verdade, é como ter em mãos um DVD. É com uma DVDteca de milhares de títulos para escolher e assistir onde quiser, na hora que quiser. Acho que agora você entende porque não acredito muito no futuro das locadoras de DVDs tradicionais.

Por outro lado, caro leitor, já houve algumas tentativas de se criar algo parecido com a Netflix no Brasil e, até agora, nenhuma “pegou” de verdade. E, como já disse antes, com a falta de “largura” em nossas bandas largas, acredito que locadoras como a sua ainda terão alguns anos de sobrevida. Portanto, enquanto pensa com alguma calma em que outro tipo de atividade empresarial poderia desenvolver, trate de extrair do negócio que você tem agora o máximo de resultados que ele pode gerar.

Comece por conversar com o máximo possível de clientes, entendendo o que é que os atrai, quais são seus interesses, seus desejos, suas inquietações, que outros produtos e serviços eles gostariam de encontrar na sua loja. Faça de tudo para ter um atendimento simpático, caloroso, eficiente. Alimente seus clientes com informação. Organize encontros para falar de cinema. Crie um café num canto da loja e passe a vender cafezinhos com algum bolinho ou biscoito especialmente gostoso. Transforme sua loja num local aonde os clientes QUEIRAM ir. Um local onde eles não vão apenas atrás de um DVD, mas de uma experiência agradável e enriquecedora.

Visite as lojas e outros locais que seus clientes consideram agradáveis, onde tendem a ir bastante. Mas vá “com olhos de ver”, tentando entender o que é que faz esses lugares serem atraentes aos olhos da clientela. Copie ou adapte para o seu negócio o que achar que faz sentido.

Forme um “Conselho Consultivo de Clientes”, juntando 5 ou 6 de seus melhores clientes que sejam informados, com boa cabeça e dispostos a ajudar você gratuitamente (ou, vá lá, em troca de uma locação sem custo por mês). Converse com eles uma vez por semana ou quinzena, sobre como fazer da sua loja um lugar onde as pessoas queiram ir, ao qual elas queiram estar associadas.

É fácil fazer o que eu sugiro? De jeito nenhum. Dá trabalho? Com certeza. Dá resultados? Depende do seu mercado, dos seus clientes, da forma como você fizer as coisas, das pessoas que você envolver, do comprometimento delas, etc.

Mas... não custa tentar. No seu lugar, eu tentaria. Afinal, o que você tem a perder?

Fonte: Pequenas empresas & Grandes negócios

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